MAPA DA VIOLÊNCIA Organizador de atlas estatístico aponta melhorias e desafios

A violência de que os jovens são vítimas é tão endêmica que as escolas não estão de fora, quando não são elas próprias o lugar para acerto de contas. "Na minha escola, não se assuste, mas já tivemos oito salas sem professor. Mas falta respeito tanto da parte de professores como de alunos". Quem diz é Conceição dos Santos, de 16 anos, estudante de uma escola municipal no bairro Mucuripe. Ela é uma das mediadoras de conflitos na escola, canal entre estudantes e professores. Dividiu o espaço, no último fim de semana, com Júlio Jacobo, organizador nacional do Mapa da Violência. Ambos participaram do "Seminário pela vida da juventude", no Centros Urbano de Cultura, Ciência, Arte e Esporte (Cuca) Mondubim.
"Já devíamos ter saído da fase da conscientização para a da mobilização verdadeira". Mesmo lamentando atraso e lentidão, o sociólogo Júlio Jacobo, organizador do Mapa Nacional da Violência, acredita que muita coisa já avançou.
Ainda que os índices de violência tenham aumentado, ele consegue ser otimista enquanto houver espaço para dizer que o jovem deve ser protagonista de sua própria história. Foi o que conferiu, e aprovou, no último fim de semana em encontro no Cuca Mondubim, na periferia de Fortaleza. Jacobo era a participação mais aguardada do seminário, afinal, o Mapa da Violência é um verdadeiro atlas estatístico sobre as mortes violentas.
O mapa desnuda uma realidade até pouco tempo camuflada. Entre 2002 e 2012, houve um crescimento de 13,4% de homicídios no País. O jovem negro da periferia tem aumentadas em 19 vezes as chances de morrer dos 13 aos 21 anos de idade.
No Ceará, a população entre 15 e 29 anos é a maior vítima de homicídios (63%). Curiosamente, o livro nacional feito de estatísticas reflete para uma realidade além dos números. Expõe, sem dizer nenhum, os nomes-alvo do quadro de exclusão violenta, em que predomina o jovem negro e pobre. Sua exposição repercute e constrange, força os governantes e a sociedade a tomarem medidas.
Capital social
"O problema é que ações são feitas e qual a extensão delas. Veja a quantidade de instituições em torno da violência contra crianças. Bancos, empresas, governos. Qual o retorno de capital social? Ninguém sabe. O que se sabe é: capacitamos 30 mil, discutimos o problema, mas qual o resultado do trabalho? Isso não sabemos ainda", afirma Júlio Jacobo, em entrevista ao Diário do Nordeste. Defende que só em um futuro próximo será possível medir os reais resultados de projetos sociais e instalações para esse fim, como os projetos sociais desenvolvidos no Cuca Modumbim, que ele vê como uma iniciativa pontual, mas válida. "É pelas possibilidades válidas que eu sou otimista até hoje", ressalta.
Para o sociólogo, o Brasil tem leis avançadas, o problema é a aplicação. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é um modelo quase internacional de legislação de proteção. "Mas há uma questão prévia: você precisa de leis específicas porque as leis gerais não estão funcionando. Ninguém criaria uma lei para infância e juventude se essas crianças estivessem protegidas legalmente, as leis mais amplas sendo cumpridas", acredita.
Jacobo se diz preocupado com o avanço de discursos que defendem a redução da maioridade penal. "Se você tem uma criança com febre de 40 graus e dá um remédio e não resolve, você não culpa a criança, culpa o remédio. O remédio não é suficiente ou não é adequado".
Para o especialista, existe resposta para o segundo passo não ter sido dado. "Não existe uma política nacional de enfrentamento da violência. Tudo o que vemos por aí são iniciativas, mesmo se inclui esfera federal, pontualmente com alguns estados".
O seminário "Pela Vida da Juventude" resultou de uma articulação entre o Fórum Permanente das ONGs de Defesa dos Direitos da Criança.
Giro da Noticia 190

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